4 de julho de 2013

Sudoku com poemas

Da série compras por impulso, vi na livraria e comprei o “Sonetos de Shakespeare – faça você mesmo” (Objetiva, 2010, 126 p.).




A proposta é brincar de sudoku, mas com poemas. No sudoku, é preciso contar repetições, atentar para linhas, colunas e quadrados em busca de sequências de números que os resolvam. Pois traduzir poemas tem muito a ver com isso. Procura-se palavras em versos, rimas, métricas e sons até se completar/abandonar o poema. Ao final de um jogo de sudoku ser exercitou sua mente, o que já é válido. Mas fica muito mais divertido se o passatempo resultar em algo que tem sentido e pode ser compartilhado, que tal tentar?

Para começar podemos pegar uma língua de sons e vocabulário mais próximos ao nosso, o espanhol. Essas são as duas primeiras estrofes do Poema dos Dons de Jorge Luis Borges – ponto altíssimo do escritor argentino que remete ao fato dele cego ser designado diretor da Biblioteca Nacional da Argentina:

POEMA DE LOS DONES – Jorge Luis Borges 
Nadie rebaje a lágrima o reproche
esta declaración de la maestría
de Dios, que con magnífica ironía
me dio a la vez los libros y la noche.
De esta ciudad de libros hizo dueños
a unos ojos sin luz, que sólo pueden
leer en las bibliotecas de los sueños
los insensatos párrafos que ceden

Sem me alongar muito, entendo que poesia precisa ter pelo menos alguns dos seguintes elementos: métrica, ritmo, sonoridade, rima e imagem. Tente manter o máximo desses elementos sem se desviar muito do sentido original (ou se desvie, o poema agora também é seu!) e complete seu sudoku. Basta lápis, borracha e papel (mas, claro, pode pedir ajuda para o google translator).

Assim como no jogo japonês, há diversas respostas para o quebra-cabeças. Abaixo deixo algumas traduções, incluindo a minha (é só clicar no mais informações).



POEMA DOS DONS – Josely Vianna Baptista

Ninguém rebaixe a lágrima ou rejeite
esta declaração da maestria.
de Deus, que com magnífica ironia
deu-me a um só tempo os livros e a noite.

Da cidade de livros tornou donos
estes olhos sem luz, que só concedem
em ler entre as bibliotecas dos sonhos
insensatos parágrafos que cedem


POEMA DOS DONS – Salomão Sousa

Ninguém derrame a lágrima ou não acoite
esta declaração da sábia mestria
de Deus, que com magnífica ironia,
de uma só vez me deu os livros e a noite.

Deu posse a esta cidade de livros
a olhos deixados sem luz, que só podem,
nas bibliotecas dos sonhos, ler crivos
de insensatos parágrafos que cedem


POEMA DOS DONS – Augusto de Campos

Ninguém rebaixe a lágrima ou censura
Esta declaração da maestria
De Deus, que com magnífica ironia
Me deu mil livros e uma noite escura.

Desta terra de livros fez senhores
A olhos sem luz, que apenas se concedem
Sonhar com bibliotecas e com cores
De insensatos parágrafos que cedem


POEMA DOS DONS – Alysson Ramos Artuso

Ninguém tome por lágrima ou açoite
Esta declaração da maestria
De Deus, que com magnífica ironia
Me deu mil vezes livros e uma noite.

Desta terra de tomos tornou donos
Os meus olhos sem luz que só podem
Reler nas bibliotecas de meus sonhos
Alguns tolos parágrafos que eclodem

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